quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Ser ou não ser

Alguns amigos meus, e até pessoas que eu não conheço, tem-me  dito ou escrito, que me acham muito corajoso pela forma como lido com a doença. Lamento muito desapontá-los, mas não se trata de coragem, mas sim falta de alternativas. Há um ditado popular que diz que, «o que não tem solução solucionado está». No caso desta doença como não há soluções o problema está resolvido e não adianta piorar as coisas. Corajoso seria se tivesse alternativas viáveis para lidar com a doença de outra forma. Se tivesse uma doença curável podia-me dar ao luxo de ficar desesperado, ou até de me vitimizar. Talvez a coisa pegasse. Seria uma boa maneira de manter o meu espírito ocupado. Mas com ELA nada resulta. Como tal não se trata de ser ou não ser corajoso, trata-se apenas da única forma possível de viver o tempo que tenho, seja ele qual for. Há outro ditado que diz que «enquanto o pau vai e vem folgam as costas». Este é profundamente brutal. Imagino um tipo nos calabouços de um qualquer regime totalitário a levar pauladas nas costas, todo contente porque no momento em  que puxam o pau atráz para lhe bater, ele está a descansar e a pensar que durante aquele segundo, ao menos não lhe estão a infligir mais sofrimento. É de grande tenacidade. Podem corromper o corpo mas não conseguem tocar na alma. Também os doentes com ELA levam pauladas todos os dias. Pauladas sem dor física, mas pauladas com dor psicológica. Ou seja não sentimos a pancada, mas sentimos o efeito da pancada, que é o enfraquecimento constante do nosso corpo. É perder forças até um limite, onde não pensávamos ser possível perder. Felizmente isto é  no domínio físico porque no outro lado as forças continuam intactas. Nada a fazer. Apenas continuar a lutar. Coragem? Não! Atitude? Talvez.

3 comentários:

  1. Mais uma vez brilhantes palavras e desta vez deixaste-me sem palavras!!!!!
    Só me ocorre dizer-te que sou teimosa e continuo a achar que és corajoso! E que te agradeço o teu testemunho por ir sabendo de ti, pois penso no teu caso muitas vezes! E por me fazeres sentir que afinal os meus problemas são ínfimos ao pé do teu e fazes-me sentir tão mal por eu me preocupar com mesquinhices e eu agradeço-te que me faças sentir assim! Espero que sirva para ganhar juízo e aproveitar melhor a minha vida porque nenhum de nós está livre que lhe apareça uma doença que nos retire qualidade de vida! Obrigada Querido Henrique! Um grande beijinho. Nanucha

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  2. O Henrique vai desculpar-me...
    não seja modesto...para além da coragem,todos nós doentes com ELA, usamos de grande inteligencia sempre que contraríamos as frustrações,calamos o queixume,ignoramos a dependencia,damos mais energia á "locomotiva".É uma luta diária...Sim, tinhamos outra alternativa;o isolamento,a revolta,o desanimo,etc...etc...etc...quem perdia,quem era? Nós...
    Ah...só mais uma coisa...Livre-se de não publicar um livro!
    Bem-haja

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  3. concordo com a Maria Helena e tens que publicar um livro, ës CORAJOSO, sim com todaas as letraas grandes,
    beijos

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