sexta-feira, 20 de maio de 2011

Ancora 7 FISIOTERAPIA

Como hoje ia escrever sobre este tema, resolvi ir ao Alcoitão,visitar as minhas queridas terapeutas. Para alem da visita a minha intenção era comprar um pack de 10 sessões para voltar a fazer terapia ocupacional e fisioterapia. Frequentei o Centro de Reabilitação de Alcoitão desde Março de 2010 até Janeiro de 2011. Foi difícil, mas não impossível, conseguir que os meus tratamentos fossem suportados pela ARS de Lisboa. Depois de obter a credencial comecei então a fazer fisioterapia e terapia ocupacional. Parei em Janeiro de 2011. Aproveitei o facto de o Hotel Onyria Marinha Edition, estar prestes a abrir para me focar no trabalho e fazer um interregno na actividade física. Era pois com redobrada expectativa que hoje voltava ao Alcoitão.

Tive logo uma má noticia. Soube que a mãe da minha terapeuta ocupacional tinha falecido em Fevereiro. Quando se tem ELA, morrer alguém que nós conhecemos com a mesma doença, é quase como ver partir um famíliar. Não sei porquê, mas cria-se entre nós uma grande solidariedade. Não sei se com as outras doenças é igual, mas nós os ELAS, partilhamos experiências, trocamos mensagens e queremos saber uns dos outros. Conheci a Maria do Ceu, no Alcoitão. Recordo dela o sorriso, a força de vontade e o orgulho que tinha nos netinhos e na família. Presto-lhe aqui, a minha sentida homenagem.

Quando comecei a fazer terapia ocupacional, tive a sorte de ter como terapeuta a Ana Rita Henriques. Não é fácil encontrar profissionais na área da saúde que estejam plenamente identificados com a doença. Muitas vezes, nem os médicos (clínica geral), e sobretudo o staff que está na triagem das urgências hospitalares, sabem todos os cuidados necessários a ter com um doente destes. Foi portanto uma vantagem encontrar alguém tão profundamente conhecedor. Entrei perro dos braços e quase sempre com as mãos inchadas. Gradualmente, aumentei muito a mobilidade dos meu braços obtendo uma boa amplitude de movimentos. Melhor do que tudo foi que as dores que tinha no ombro direito sempre que fazia um movimento mínimo, desapareceram. Até hoje. Também as mãos ao serem regularmente mobilizadas deixaram de estar inchadas. Por aqui se pode atestar da importância da terapia ocupacional nesta doença. Mas, não era só esta disciplina que eu tinha neste curso superior de vida. Também tinha fisioterapia. A minha terapeuta, Alexandra Salgueiro, começou a trabalhar comigo alguns exercícios de força e alongamentos. A dificuldade de regular a intensidade nas sessões de fisioterapia, resulta do facto de se ter que acertar na mouche. Não fazer, é péssimo porque com a progressão da doença dificilmente se mantém os músculos entrando rapidamente em atrofia muscular; fazer de mais, é pior a emenda que o soneto, porque rapidamente se entra em fadiga muscular e se desgasta o músculo conduzindo à sua degradação. O equilibrio entre essas duas variáveis é a dose certa. Foi isso que eu tive. Um treino equilibrado, variado e adaptado às minhas limitações. No inicio ainda fazia treino de marcha. Posteriormente, quando a marcha se tornou impossível, trabalhámos num colchão, na bicicleta sem resistência e no stanging frame. A Alexandra tem especial predilecção pelos alongamentos. Eu tenho a sensação que tenho umas cordas dentro de mim que são mais curtas do que deviam. Quando alongo, parece que as «cordinhas» vão partir. Dói, mas faz muito bem, porque atrasa os encurtamentos e  previne as eventuais deformações.

Uma das coisas boas da fisioterapia e terapia ocupacional, é que são feitas em ambiente descontraído e de boa disposição. Isso contribui para manter um bom astral nos utentes. Confesso que nunca fui adepto de massagens nem de qualquer tipo de terapia em que tocassem no meu corpo. A generalidade das pessoas diz, que as massagens as relaxam; a mim põe-me tenso. Culturalmente, neste aspecto, sou um pouco British, ou seja, gosto de ter um perímetro de segurança há minha volta. Os Árabes, culturalmente tocam-se e abraçam-se. O mundo da fisioterapia é um pouco como o mundo dos Árabes. Temos que nos habituar a quem nos toca e a que manipulem o nosso corpo. E não é só o nosso, porque o corpo do terapeuta também invade o nosso espaço. Os fisioterapeutas e os terapeutas ocupacionais tem portanto uma relação descontraída com o corpo. Eu não estava habituado a isso. No principio ficava um pouco sem jeito, mas depois habituei-me. Afinal somos todos humanos. Esta simplicidade  e a forma genuína como se fazem as coisas foi para mim uma lição.

Agradeço muito às minhas terapeutas  terem puxado por mim e zangarem-se quando eu me baldava. Parece até que as terapeutas se importavam mais com a condição do doente do que o próprio. Neste capitulo não sou exemplar e desafio todos os ELAS a serem melhores do que eu. Aquilo que tenho de sobra em atitude para contrariar a doença, falta-me em vontade para fazer exercício. Mas prometo que vou mudar!

3 comentários:

  1. A Maria do Céu tinha um sorriso contagiante. Vejo muitas vezes esse sorriso e essa alegria de viver, nos vídeos que tenho dela.
    A Ana Rita é adorável, como a mãe.
    Um abraço para si e continuação de força espiritual, para fortalecer a força física.
    Henrique Samagaio

    ResponderEliminar
  2. Henrique, fantástico como sempre na tua forma de escrever! Gosto muito de te ler, meu Querido! Só te queria dizer que a solidariedade que se cria entre doentes com a mesma doença, acontece com outras doenças! tenho 3 amigas com Lupus e as 3 têm um laço que as une, muito forte! parece que falam uma linguagem difícil de entender pelos que estão de fora!
    e eu sou doente bipolar e todos os doentes da ADEB (associação de doentes depressivos e bipolares) também têm algo muito forte que os une! Sem nos conhecermos de lado nenhum, mal nos conhecemos, sabendo que padecemos do mesmo mal, sentimo-nos do mesmo "clube", estamos no mesmo barco! no mesmo sofrimento ... com os mesmos receios, com as mesmas esperanças ... Um Grande Abração para ti! Nanucha

    ResponderEliminar
  3. BEIJOS E FORÇA! E GOSTAVA DE UM DIA DESTES TE VER A TI, À MARA E AOS MENINOS!

    ResponderEliminar